Quando Michael Jackson começou a categorizar as cervejas em estilos no seu icônico livro “The world guide to beer” (1977), talvez não tivesse a total ciência do quão importante se tornaria a classificação de cervejas para os mais diversos concursos cervejeiros do mundo.
Estilos de cervejas sempre existiram, mas não se costumava catalogá-los. No passado, os estilos dependiam muito das características das matérias-primas locais. Por isso, as classificações começaram através das tradicionais nações cervejeiras, como Bélgica, Alemanha, Inglaterra, República Tcheca, entre outras. Historicamente, muitos estilos se desenvolveram espontaneamente nesses países e somente depois de ficarem famosos em outras regiões, ou de serem produzidos ao longo de muito tempo, é que acabaram sendo nomeados pelo que conhecemos hoje. Por exemplo, uma Ale escura produzida em Londres por algumas gerações foi, em algum momento, por volta de 1725, chamada de Porter. Stout era um termo comumente utilizado para cervejas fortes na Inglaterra no final do século XVII. Porém, somente na geração seguinte Stout passou a ser a versão mais forte da Porter.
Hoje, quantos tipos diferentes de Stouts e Porters nós temos?! Estes dois estilos foram subdividos em outros, como American, English ou Imperial Porter, Oatmeal, Dry ou Sweet Stout, isso só para citar alguns. Saber as diferenças e nuances sensoriais de cada um desses estilos e subestilos é fundamental para produção e enquadramento da cerveja em concurso.
Além dos diversos concursos feitos em cada país, ainda existem os concursos realizados para cervejas de diversos países diferentes. Logo, para serem avaliadas nestes concursos, as cervejas precisam de critérios preestabelecidos em seus regulamentos, que, na sua maioria, são feitos através da indicação de um Guia de Estilos. Normalmente, os concursos seguem um dos dois mais populares: ou o da Brewers Association (BA) ou o do Beer Judge Certification Program (BJCP)*.
À primeira vista pode parecer muito difícil enquadrar tantas variedades de cervejas em categorias. E isso de fato é difícil, mas também necessário, pois, ao julgar uma cerveja, o jurado não pode levar em consideração gostos pessoais, mas sim critérios técnicos.
Conhecer bem as características sensoriais da amostra de cerveja a ser enviada para a competição e também o estilo no qual ela deve ser inscrita é fundamental para a avaliação adequada do produto e, mais ainda, para ter a chance de uma premiação. Afinal, nada mais decepcionante para o cervejeiro do que receber o feedback da sua cerveja com algo do tipo: “sua cerveja está boa, porém fora do estilo inscrito ou não foi inscrita no estilo adequado”.
*Ambos os Guias de Estilos estão disponíveis gratuitamente em seus respectivos sites e são referências técnicas para jurados em concursos de cervejas. Além disso, na edição 26 da Revista da Cerveja, foi publicada matéria especial sobre os Guias de Estilos.
– Para estudos em estilos de cervejas, recomendo publicações específicas da área, como:
- “Tasting beer”, de Randy Mosher
- “Beerology”, de Mirella Amato
- “Beer styles from around the world”, de Horst Dornbusch
Texto originalmente publicado na coluna Profissão Cerveja da Revista da Cerveja, em 13 de julho de 2017.